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Strange Tongue 9554
1995. Acrílico s/ tela, 150X152 cm





Strange Tongue 9265
1992. Acrílico s/ tela, 259X194 cm



 


 


Tschoo-Su Kim

Por Sung-Rok Suh


A Pintura Monocrômica de Tschoo-Su Kim

A tradição cultural do Extremo Oriente se desenvolveu no sentido da espiritualidade e essa procura de valores espirituais se reflete na maioria dos aspectos de nossa vida cotidiana, incluindo a arte. A busca da espiritualidade é a razão fundamental para a pintura, de modo que é facilmente compreensível que as teorias tradicionais de pintura considerem as pinturas de inspiração espiritual como sendo as melhores e as que representam cenas realistas sejam rotuladas como vulgares. Admitindo-se que poderia ser uma simplificação apressada afirmar que a pintura oriental foi somente adotada e utilizada como um meio de se atingir um patamar espiritual mais alto, é fato indiscutível que os 'valores espirituais' na pintura oriental têm sido a principal e mais importante motivação há muitos séculos.

Os valores espirituais contidos nas pinturas de Tschoo-Su Kim estão longe do Logos, um conceito tipicamente ocidental. Ironicamente, seus valores espirituais advêm de uma delicada percepção da natureza tal como ela existe. Em outras palavras, os valores espirituais de Kim são obtidos a partir da harmonia com a natureza. O naturalismo que ele tenta transmitir é refletido nos materiais rudes que emprega, no seu processo de pintura simplificado e na indescritível e delicada atmosfera encontrada em suas pinturas. Tschoo-Su Kim parte da ideologia dicotômica ocidental que distingue o sujeito do objeto, o espírito da natureza, o exterior do interior. Ele estreita, porém, esses elementos aparentemente contraditórios e os incorpora em uma só totalidade. A capacidade de criar tal unidade advém de sua coragem de deixar de lado abordagens subjetivas e de confiar no universo natural. Esse mundo novo e diferente somente pode ser visto por aqueles capazes de apagar de suas mentes todos os preconceitos. Esse mundo novo consiste do 'espetáculo que é a natureza'.

Desde a antiguidade 'a unidade entre sujeito e objeto' tem sido um dos pontos centrais de debate nas teorias de pintura orientais. O que é importante é o fato de que o foco no 'sujeito e objeto incorporados' tenha sido sempre sobre a natureza e não sobre a humanidade. Tal atitude orientada para a natureza pode explicar o motivo pelo qual as pinturas de paisagens orientais ocorreram no Oriente mil anos antes do que no Ocidente. Isso também explica por que a pintura de paisagens sempre foi o tema principal da pintura oriental tradicional. O que estava por trás desse fenômeno? Provavelmente a imutável abordagem do mundo que via os humanos como meras 'criaturas fracas' quando comparados 'à grande mãe natureza'. Do mesmo modo, podemos assumir que a atitude tradicional quanto à pintura, que se opunha por sujeitos predeterminados, também seja decorrência dessa abordagem do mundo.

A versão de Tschoo-Su Kim sobre a 'unidade entre sujeito e objeto' tem raízes diferentes. Uma delas é a tentativa de Tschoon de induzir harmonia com a natureza por meio de uma constante construção do material; a outra decorre de seu esforço para retratar um mundo purificado ao usar cores puras. Com relação à primeira causa, podemos notar facilmente que a acumulação do material é realizada, quase sem exceções, por meio de atividades repetidas de acúmulo. As pinceladas brutas, sem sofisticação, que utilizam uma quantidade mínima de tinta são espalhadas em um aparente caos. Seu trabalho exclui composições artificiais ou contraste em sua administração do espaço. A única coisa que podemos perceber é que o material colocado sobre a superfície plana e os traços da atividade repetida indefinidamente emergem de trás desse material espalhado sobre a tela. Uma observação mais atenta de sua pintura revela que nem o material nem os traços de atividade reivindicam algo - é como se abrissem mão da verdadeira razão de sua existência. Mas tal depoimento não incluiria uma explicação completa pois ainda continuaríamos com a questão de seu esforço contínuo pela 'naturalização'. Em vez de criar uma imagem a ser apreciada, o pintor busca mostrar a luz, a energia do material puro. É o poder que só é encontrado pulsando e respirando no material puro. O poder de transmitir uma corporificação intangível por meio do simples uso do material; nos conduzir ao mundo do abismo é o verdadeiro valor da sua pintura.

Além desse seu uso do material, Kim utiliza a cor pura para conseguir obter a 'unidade entre sujeito e objeto'. A cor que encontramos em suas pinturas é freqüentemente similar às encontradas na porcelana de Koryo, um dos tesouros culturais mais cultuados da Coréia. O azul-esverdeado da porcelana de Koryo é conhecido e elogiado por sua sublime elegância. A cor leve e clara que desperta uma emoção profunda e tranqüila está de fato em harmonia com a abordagem filosófica oriental, assim como com a crença oriental no sobrenatural.

Tschoo-Su Kim utiliza com freqüência essa cor como um meio de desmaterializar os objetos e de fazê-los penetrar com profundidade no domínio espiritual. A cor azul-esverdeada raramente remete ao desejo ou à paixão; é, ao contrário, uma cor ascética que possui valores espirituais. Antes de mais nada, a característica básica do azul que ele emprega nos conduz à meditação profunda que faz com que nos sintamos como se estivéssemos sozinhos em um lago de águas paradas e límpidas. Ele nos guia na direção do mundo do abismo de modo que esquecemos momentaneamente nossa obsessão pelos nossos corpos. Ele nos devolve a paz mental e indica o sentido profundo do nosso ser, de nossa existência. O 'eu' e a natureza se fundem no processo de meditação e começamos a pensar em 'algo' que é fonte comum para nós e para a natureza. Nesse contexto, o azul de Tschoo-Su Kim tem, sem a menor dúvida, o poder que irradia a luz fundamental da vida.

Tschoo-Su Kim alcançou um mundo transcendente invisível ao usar um estilo pessoal de pinceladas e cores puras. O mundo que ele reproduz não se assemelha à superfície do mar que se levanta e se acalma à medida que o vento sopra, mas nos mostra o abismo silencioso onde a paz e a tranqüilidade sempre existem.



Cronologia


Nasceu em 1957. Obteve seu MFA na California State University, Los Angeles. Obteve os títulos MFA e BFA na Seoul National University, em Seul.


Exposições individuais

1994
Total Museum of Contemporary Art, Seul, Coréia do Sul.
1993
Gallery Nine, Seul, Coréia do Sul; Gallery Shilla, Taegu, Coréia do Sul.
1992
Gallery Soo, Seul, Coréia do Sul.
1991
Gallery Soo, Seul, Coréia do Sul; Fine Arts Center, Seul, Coréia do Sul; La Artcore Gallery, Los Angeles, Estados Unidos.
1988
Kwanhoon Gallery, Los Angeles, Estados Unidos.
1986
La Artcore Gallery, Los Angeles, Estados Unidos.
1985
Fine Arts Gallery, CSULA, Los Angeles, Estados Unidos.


Exposições coletivas

1995

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199
The Blue, Another Spirit, Whanki Museum, Seul, Coréia do Sul; Monochromes after "the Monochromes" Whanki Museum, Seul, Coréia do Sul.
1993
Total Grand Prix Exhibition, Total Art Museum, Changhung, Coréia do Sul.
1992/90
Korean Contemporary Paintings, Hoam Art Gallery, Seul, Coréia do Sul.
1992
Korean Contemporary Paintings, La Artcore Annex, Los Angeles, Estados Unidos.
1991
Informel Apres Informel, Chosunilbo Art Gallery, Seul, Coréia do Sul; Triangle Artist's Workshop, Usdan Gallery, Vermont, Estados Unidos.
1990
Seoul Art Center Inaugural Exhibition, Seoul Art Center, Coréia do Sul.


Prêmios

1993
Total Grand Prix, Total Museum of Contemporary Art, Coréia do Sul.