.

Wall Drawing #793 C
1996 Tinta s/ parede. Coleção: Weadsworth Atheneum, Hartford, Connecticut





Maquettes for Wall Drawing #808
1996. Estrelas com seis e sete pontas, dentro de faixas, pintadas em camadas sobrepostas de tinta aquarelada. Criado para a 23a Bienal Internacional de São Paulo



 


 


Sol LeWitt

"Se a cabeça do poeta é bem-feita, sua arte será bem-feita."(1)
Allen Ginsberg

"Um cego pode fazer arte se o que estiver em sua mente puder ser transmitido para outra mente de forma perceptível."(2)
Sol LeWitt

"Os desenhos murais de LeWitt são catalíticos; tão importantes para o desenho como o uso da técnica do gotejamento de Pollock o foi para a pintura nos anos 50."(3)
Bernice Rose


Sol LeWitt foi um dos mais influentes praticantes da arte conceitual, uma inovadora abordagem da prática artística que emergiu internacionalmente em meados dos anos 60. Os artistas conceituais avaliavam que o conceito original de uma obra de arte tinha a mesma importância que sua realização material. O que estes artistas propunham era um corte radical dentro das tradições da arte ocidental, que deu ênfase durante longo tempo ao artesanato e raramente ao produto final. Diversos textos de LeWitt são dedicados a expor esse novo meio de fazer arte, especialmente nos largamente difundidos Paragraphs on conceptual art, de 1967 (4), e Sentences on conceptual art, de 1969 (5).

Os desenhos murais de Sol LeWitt tiveram considerável influência, direta e indiretamente, na história da arte contemporânea. O inovador conceito de suportes, freqüentemente monumentais, ainda que de natureza efêmera, encorajou diversas gerações de jovens artistas a ampliarem as fronteiras da arte contemporânea em novas e diferentes direções, inclusive as instalações e a arte performática.

Mais importante, o desenho mural continuou sendo uma área de expressão vital e engajada para LeWitt, por mais de 25 anos. Seus primeiros desenhos murais eram singelos, com invenções evasivas, desenhados com linhas de lápis finas e agudas. Durante a década passada ou próximo disso, eles cresceram até se tornarem impressionantes em escala e exuberantes em cor. Agora, em sua maioria, são desenhados com tintas aquareladas ricas e sensuais, como as utilizadas em afrescos.

LeWitt aproveita a oportunidade da 23ª Bienal Internacional de São Paulo para realizar em grande escala um conjunto de imagens que ocorreram de diferentes modos em seu trabalho por quase quinze anos. Wall Drawing #808, Stars with Three, Four, Five, Six, Seven, Eight, and Nine Points within Bands of Color Ink Washes Superimposed (1996) é uma série de sete estrelas individuais com três a nove pontas. Todas as estrelas têm dois metros de diâmetro e foram centralizadas dentro de sete setores delimitados em preto no espaço da parede. Cada estrela é circundada por faixas concêntricas com 30 centímetros de largura e coloridas com aguadas. A ampla gama de cores neste desenho mural é obtida por um processo de demãos (em vez de misturas) de apenas quatro cores de tinta: vermelho, amarelo, azul e preto diluído para o cinza. Esse método de combinar tais cores foi utilizado por LeWitt em todos os seus desenhos murais com tintas aquareladas.

Em 1982, LeWitt utilizou pela primeira vez a figura da estrela em um desenho mural. Esta obra apresentava um par de estrelas de cinco pontas adjacentes, desenhadas com nanquim. Com poucas e raras exceções, as estrelas de LeWitt são definidas consistentemente pela geometria de um círculo. Cada ponto da estrela pousa na circunferência do círculo, dentro do qual as estrelas são construídas a partir da forma de um polígono regular, usando a fórmula geométrica convencional.

O primeiro desenho mural a apresentar uma seqüência de estrelas, incluindo a excêntrica estrela de três pontas de sua autoria, foi o #386, de 1983. Como o desenho apresentado em São Paulo, esta obra reflete o uso do serialismo, uma estratégia que LeWitt explorou fecundamente ao longo de sua carreira. Cinco meses depois, em Genebra, Suíça, LeWitt aperfeiçoou essa idéia com tintas coloridas, em Wall Drawing #398. Ao longo dos anos, a partir da idéia da estrela, LeWitt a experimentou com várias cores e novas configurações em guache, desenhos murais, estruturas tridimensionais, estampas, cerâmicas, até mesmo mostradores de relógio. Em 1991, LeWitt apresentou sua primeira Star within Bands of Color Ink Washes Superimposed. A apoteose destas investigações é o audacioso e exuberantemente colorido Stars with Three, Four, Five, Six, Seven, Eight, and Nine Points within Bands of Color Ink Washes Superimposed, apresentado em São Paulo.

O Wadsworth Atheneum desfruta de um relacionamento especial e de longa data com Sol LeWitt. Ele nasceu em 1928, em Hartford. Freqüentou o curso de artes do Atheneum na infância. Em 1949, graduou-se na Syracuse University, em Syracuse, Nova York. Serviu nas Forças Armadas dos Estados Unidos na Coréia do Sul, em 1951 e 1952. Em 1976, LeWitt fez uma promissora doação de sua ampla coleção de arte conceitual para o museu do Atheneum e, agora, boa parte desta coleção encontra-se no depósito do museu.

A reforma no saguão da sede do Atheneum, construído em 1842, em estilo neogótico, o Wadsworth Building (Towne & Davis), concluída em abril de 1996, apresenta um novo e dramático desenho mural de Sol LeWitt: Wall Drawing #796 C, Irregular Wavy Color Bands on Two Facing Walls (1996), cada parede com 11,3 metros de altura e 18,9 metros de largura. O Atheneum ainda possui duas outras salas com desenhos murais em exposição permanente: Wall Drawing #352, A Wall Is Divided Equally into Three Equal Parts, Red, Yellow, and Blue... (1981); e Wall Drawing #612, Forms Derived from a Cubic Rectangle with Color Ink Washes Superimposed... (1989). Recentemente, o Wadsworth Atheneum adquiriu e instalou uma de suas primeiras obras, Wall Drawing #8, Six-part serial drawing using all two part combinations of lines in four directions, placed in two rows of three within a rectangle (1969), desenhada com lápis preto, e #8 B (1996), feita com lápis de cor (vermelho, amarelo, azul e preto).

LeWitt desenvolveu suas idéias em uma grande variedade de meios, incluindo desenhos murais, trabalhos em papel, estruturas, livros artísticos, móveis, cenários, cerâmicas, tapetes, rótulos de vinho e outros objetos de uso cotidiano. Para LeWitt embora não para o mercado de arte, cada um desses meios é visto de modo não-hierárquico, igualmente válido, como sendo um mundo ideal, igualmente valioso. A abordagem não-hierárquica feita por LeWitt em relação aos meios é paralela à estrutura da maioria das suas obras, nas quais cada componente individual de um todo deve ser entendido como um igual em interesse a qualquer e a todos os outros componentes.

Em seus primeiros trabalhos, LeWitt também escolheu manter um vocabulário visual simples e conciso. Durante longo tempo, ele utilizou linhas retas nas quatro direções e formas geométricas básicas. Atualmente, ele continua a restringir sua palheta às demãos do vermelho, amarelo, azul e preto. A partir desses elementos simples, freqüentemente atrelados a sistemas preestabelecidos, ele produziu uma série de belos e intrigantes resultados. Quase sempre, o seu trabalho incorpora um jocoso senso de interrogação.

Poucos artistas influíram tão fortemente no nosso repensar em torno do relacionamento entre conceitos e materiais como fez Sol LeWitt. De maior influência, dentro deste aspecto, são os seus desenhos murais. Eles redefiniram o papel do artista e ampliaram nossas idéias acerca do que pode ser arte. Realmente, o marcante livro de Lucy Lippard, Six Years: The Dematerialization of the Art Object from 1966 to 1972, fundamental para o tema da Bienal deste ano, A Desmaterialização da Arte no Final do Milênio, é dedicado "A Sol".(6)

1. Allen Ginsberg, "Cosmopolitan Greetings" (1986), in: Alpha beat soup 6, Inverno 1989/1990, p. 36.
2. Sol LeWitt, entrevista com o autor, 1981.
3. Bernice Rose, "Sol Lewitt and Drawing", Sol LeWitt, Nova York, The museum of modern art, 1978, p. 31.
4. Sol LeWitt, "Paragraphs on Conceptual Art", Artforum 5, nº 10, junho de 1967, p. 80.
5. Sol LeWitt, "Sentences on Conceptual Art", Art-language 1, nº 1, maio de 1969, p. 11.
6. Lucy Lippard (ed.), Six Years: The Dematerialization of the Art Object from 1966 to 1972, Nova York, Praeger Publishers Inc. and London, Studio Vista, 1973.



Cronologia


Nasceu em Hartford, em 1928. Em 1949, graduou-se pela Syracuse University, Nova York. Criador do Wall Drawing, desenvolve atualmente seu trabalho em uma grande variedade de meios.


Exposições coletivas

1996
Sol LeWitt, Sala de las Alhajas, Madri, Espanha; Sol LeWitt Prints 1970-1995, The Museum of Modern Art, Nova York, Estados Unidos.
1995
Sol LeWitt: Wall Drawings, Kukje Gallery, Seul, Coréia; Lisson Gallery, Londres, Inglaterra; John Weber Gallery, Nova York, Estados Unidos.
1994
Sol LeWitt Wall Drawings: 25 Years of Wall Drawings 1969-1994, Renn Espace d'Art Contemporain, Paris, França; John Weber Gallery, Nova York, Estados Unidos; Annemarie Verna, Zurique, Suíça.
1993
Sol LeWitt: Twenty-Five Years of Wall Drawings, 1968-1993, Addison Gallery of American Art, Phillips Academy, Andover, Inglaterra; Galerie Konrad Fischer, Düsseldorf, Alemanha; Sol LeWitt Structures 1962-1993, exposição itinerante, Museum of Modern Art, Oxford, Inglaterra.
1992
John Weber Gallery, Nova York, Estados Unidos; Sol LeWitt Drawings 1958-1992, exposição itinerante, Gemeentemuseum, Haia, Holanda.
1991
Lisson Gallery, Londres, Inglaterra; Galerie Yvon Lambert, Paris, França; Annemarie Verna, Zurique, Suíça.
1990
Sol LeWitt: Recent Works, Tokyo Museum of Contemporary Art, Tóquio, Japão; Sol LeWitt: Books, Portikus, Frankfurt, Alemanha; John Weber Gallery, Nova York, Estados Unidos.
1989
Ugo Ferranti Gallery, Roma, Itália; Sol LeWitt: Wall Drawing, Structures, Prints and Drawings, Spoleto Festival USA, Gibbes Museum of Art, Charleston, Estados Unidos; Sol LeWitt: Prints 1970-1986, Zilkha Gallery, Wesleyan University, Middletown, Estados Unidos; Sol LeWitt: Prints 1970-1986, New Britain Museum of American Art, New Britain, Estados Unidos; Sol LeWitt Wall Drawings 1984-1989, Kunsthalle Bern, Berna, Suíça; Galerie Yvon Lambert, Paris, França.
1988
Lisson Gallery, Londres, Inglaterra; John Weber Gallery, Nova York, Estados Unidos; Annemarie Verna, Zurique, Suíça.
1987
Wall Drawings, Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris, França; Ugo Ferranti Gallery, Roma, Itália; Galerie Yvon Lambert, Paris, França; Galerie Konrad Fischer, Düsseldorf, Alemanha.
1986
Sol LeWitt: Prints 1970-1986, The Tate Gallery, Londres, Inglaterra; Sol LeWitt Wall Drawings, Institute for Contemporary Art, Londres, Inglaterra; John Weber Gallery, Nova York, Estados Unidos; Inaugural Exhibition: Wall Drawings by Sol LeWitt, The Drawing Center, Nova York, Estados Unidos; Galerie Yvon Lambert, Paris, França; Annemarie Verna, Zurique, Suíça.
1985
Wall Drawings, Israel Museum, Jerusalém, Israel.
1984
Wall Drawings and Works on Paper, Stedelijk Museum, Amsterdã, Holanda; Structures, Stedelijk Van Abbemuseum, Eindhoven, Holanda; Lisson Gallery, Londres, Inglaterra; Galerie Yvon Lambert, Paris, França; Annemarie Verna, Zurique, Suíça.
1983
Ugo Ferranti Gallery, Roma, Itália; Lisson Gallery, Londres, Inglaterra; Galerie Konrad Fischer, Düsseldorf, Alemanha.
1982
Ugo Ferranti Gallery, Roma, Itália; John Weber Gallery, Nova York, Estados Unidos.
1981
Sol LeWitt Wall Drawings: 1968-1981, Wadsworth Atheneum, Hartford, Estados Unidos; Palace of Culture, Varsóvia, Polônia; Galerie Konrad Fischer, Düsseldorf, Alemanha; Annemarie Verna, Zurique, Suíça.
1980
Ugo Ferranti Gallery, Roma, Itália; John Weber Gallery, Nova York, Estados Unidos; Galerie Yvon Lambert, Paris, França.
1979
Lisson Gallery, Londres, Inglaterra; Galerie Yvon Lambert, Paris, França; Galerie Konrad Fischer, Düsseldorf, Alemanha.
1978
John Weber Gallery, Nova York, Estados Unidos; Sol LeWitt: The Museum of Modern Art, exposição itinerante,The Museum of Modern Art, Nova York, Estados Unidos.
1977
Lisson Gallery, Londres, Inglaterra; Galerie Konrad Fischer, Düsseldorf, Alemanha; John Weber Gallery, Nova York, Estados Unidos.
1975
Sol LeWitt\MATRIX 6, Wadsworth Atheneum, Hartford, Estados Unidos; Sol LeWitt\MATRIX 3, Wadsworth Atheneum, Hartford, Estados Unidos; Incomplete Open Cubes, Kunsthalle Basel, Basiléia, Suíça; Incomplete Open Cubes and Wall Drawings, Scottish National Gallery of Modern Art, Edimburgo, Escócia; Graphik: 1970-1975, Kunsthalle Basel, Basiléia, Suíça; Galerie Konrad Fischer, Düsseldorf, Alemanha; Art & Project, Amsterdã, Holanda; Annemarie Verna, Zurique, Suíça; Wall Drawings, Israel Museum, Jerusalém.
1974
Rijksmuseum Kroller Muller, Otterlo, Holanda; Prints, Stedelijk Museum, Amsterdã, Holanda; Lisson Gallery, Londres, Inglaterra; Galerie Yvon Lambert, Paris, França.
1973
Museum of Modern Art, Oxford, Inglaterra; Lisson Gallery, Londres, Inglaterra; Galerie Yvon Lambert, Paris, França; Art & Project, Amsterdã, Holanda; John Weber Gallery, Nova York, Estados Unidos.
1972
Kunsthalle Bern, Berna, Suíça; Galerie Konrad Fischer, Düsseldorf, Alemanha; Art & Project, Amsterdã, Holanda.
1971
John Weber Gallery, Nova York, Estados Unidos; Dwan Gallery, Nova York, Estados Unidos; Galerie Konrad Fischer, Düsseldorf, Alemanha; Lisson Gallery, Londres, Inglaterra; Art & Project, Amsterdã, Holanda.
1970
Sol LeWitt, Pasadena Art Museum, Pasadena, Estados Unidos; Dwan Gallery, Nova York, Estados Unidos; Lisson Gallery, Londres, Inglaterra; Galerie Yvon Lambert, Paris, França; Gemeentemuseum, Haia, Holanda; Art & Project, Amsterdã, Holanda.
1969
Sol LeWitt: Sculptures and Wall Drawings, Museum Haus Lange, Krefeld, Alemanha; Galerie Konrad Fischer, Düsseldorf, Alemanha.
1968
Galerie Konrad Fischer, Düsseldorf, Alemanha; Dwan Gallery, Nova York, Estados Unidos.
1967
Dwan Gallery, Los Angeles, Estados Unidos.
1966
Dwan Gallery, Nova York, Estados Unidos.
1965
Daniels Gallery, Nova York, Estados Unidos.