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Esfera
1994. Nylon pintado, 300X200X200 cm. Coleção do artista





Escritura Sonia
1996. Nylon, metal, madeira e pintura, 102X170X15 cm. Coleção: Sonia e Cesar Quintana



 


 


Jesús Soto

Por Roberto Guevara


Soto - A Realidade como Energia

A realidade como energia introduziu uma profunda revolução no campo da investigação artística. Esse têm sido o objetivo da obra de Jesús Soto desde os primeiros anos da década de 50, quando deu início a seu implacável processo de busca de novas estruturas para perceber, comunicar e divulgar, no âmbito do universo imediato e extenso, o mundo real e o imaginável. Desse modo, ele dava início a mudanças radicais e iniciava uma nova era.

A consistência do mundo material como postulado fundamental parecia uma noção confiável e permanente para os homens do século XIX. As mudanças radicais propostas pelos conceitos de Einstein e Plank, porém, estabeleceram novas bases para a interpretação do espaço, da luz e até da própria matéria. Os princípios dialéticos profetizados por Heráclito de Éfeso há 25 séculos sugeriam um universo em gênese permanente, baseado no princípio de energia (fogo), que flutua sem cessar, convertendo assim a realidade em vir a ser. Parmênides inaugurou uma negação desse princípio, pois não podia admitir no âmbito da lógica formal um universo que pudesse ser e não ser ao mesmo tempo. A arte refletiu durante milênios um conceito estético aceito pela tradição como representativa do universo circundante. Gabo e Pevsner, no famoso Manifesto Realista de 1920, reivindicaram uma nova arte que incluísse o movimento real e não a arte de 'ritmos estáticos'.

Calder criou seus 'móbiles' harmoniosos e, muito mais tarde, Tinguely deu início a suas peças industriais articuladas, com movimentos sincopados, que lembram as toscas engrenagens das máquinas. Para Jesús Soto, era necessário ir mais longe. a questão da dinâmica do universo e a constituição da matéria não podiam se restringir a uma proposta subjetiva nem, como ele próprio afirma, 'a uma coisa que se move'; a questão era, pelo contrário, 'uma relação'.(1)

Assim tem início o processo para determinar a realidade como estruturas invisíveis, sensíveis por intermédio da arte como fato atual, interativo, que o homem contemporâneo pode vivenciar. Trata-se de um processo que implica de modo pleno a desmaterialização da obra de arte e a abordagem de toda a realidade como energia.

Soto começa por criar um novo alfabeto para a arte, semelhante ou equivalente ao da música, por meio do qual transforma a obra em proporções seriais e repetitivas, nas quais o olho fica livre para a leitura. rompe com a tradição clássica e renascentista da forma e da composição, que substitui pelas noções novas de elemento e estrutura. Os elementos são equivalentes entre si e a estrutura é invisível, uma força de coesão. Em sua investigação, Soto justapõe planos e cria uma nova leitura deles, que se transformam e criam uma mobilidade de transmutação. A ausência de estabilidade dos elementos colocados em planos em relevo sobre o traçado vertical de linhas brancas e fundo negro provoca, de início, uma vibração. Em seguida, como consequência imediata, a desmaterialização.

Frente a uma obra de pingentes sobre um fundo listrado, a percepção se desloca, como se fosse um rio heracliteano, e não sabemos mais onde estão essas linhas que se insinuam e desaparecem continuamente. Soto desenvolve novos modos de percepção, de se comunicar e de penetrar as categorias constituidoras. As extensões e progressões abordam o espaço real e criam um novo. Os penetráveis, como aquele efêmero apresentado no Museu Guggenheim de Nova York (1976), criam, de modo vivencial, uma participação no volume, tornam-se parte essencial, possibilitam o sentido tátil, sonoro, real e virtual ao mesmo tempo, definido e redefinido à medida em que passamos por ele.

Em sua evolução, a obra de Soto dialoga com a natureza, com o espaço urbano e com a situação do homem no interior dos espaços habitados. Talvez o precedente importante seja a obra que ele criou para o hall do edifício da Unesco em Paris (1969), uma experiência singular de ambientação contínua, que se completa à medida que o visitante a penetra, oferecendo alternativas, promovendo encontros. Seguiram-se muitas experiências feitas em edifícios públicos, centros culturais, sedes de bancos e indústrias ou mesmo nas próprias ruas. Todas foram feitas para promover a visão com ausência de estabilidade, o impulso de recriar leva a obra de Soto ao homem comum, um entre muitos, em situações diferentes, espontâneas, imprevisíveis. Isto têm ocorrido na sede do restaurante da fábrica da Renault, Paris (1975); no Centro Georges Pompidou, na mesma cidade, em 1987; assim como no Banco do Canadá, em Toronto (1977); e no Teatro Teresa Carreño em Caracas (1980). No Festival de Arte Efêmera realizado no Brasil ou nos Jogos Olímpicos de Seul ou nas Férias Internacionais do Japão o mesmo processo teve lugar. Sempre com um sucesso surpreendente, um acontecimento que nos dá a sensação de ter perdido o chão no qual nos apoiamos, que nos deixa em suspenso, para reconsiderar rapidamente as idéias sobre o que considerávamos anteriormente como seguro e estável.

Quem teve a oportunidade de ver estes Volúmenes Suspendidos de Soto ou suas grandes Esferas, com suas varetas pendentes, certamente terão vivenciado a sensação de transmutação, de desmaterialização que ocorre diante dos nossos próprios olhos, assim como a sensação de estar frente a algo insólito. Ao deparar com essas obras de grande formato, o transeunte percebe como se 'engendra' uma massa de cor que se desprende, se move conosco, em um espaço impossível de ser situado e até difícil de ser concebido. Então nos lembramos das palavras de Soto, citadas por Marcel Joray em seu livro: "uma preocupação que sempre me perseguiu ao longo de minhas pesquisas plásticas: como conseguir fazer com que a matéria voltasse a adquirir seu valor essencial, isto é, a energia...".

1. Joray, Marcel e Soto, Jesús Rafael; Soto, Editions du Griffon, Neuchâtel, Suíça, 1984.



Cronologia


Nasceu em Ciudad Bolívar, Venezuela, em 1923. Estudou na Escuela de Bellas Artes de Caracas e de 1947 a 1950 foi diretor da Escuela de Artes Plásticas de Maracaibo. Em 1970 foi inaugurado em Ciudad Bolívar o Museo de Arte Moderno Jesús Soto. Mudou-se para Paris em 1950, cidade onde vive até hoje.


Exposições individuais

1995
Art Miami'95, Miami, Estados Unidos; Hyundai Gallery, Seul, Coréia do Sul.
1994
In Khan Gallery, Nova York, Estados Unidos.
1993
Fundação de Serralves, Porto, Portugal; Museo de Arte Moderno, Fundación Jesús Soto, Ciudad Bolívar, Venezuela.
1992
Le Carré/Musée Bonnat, Bayonne, França; Museo de Bellas Artes, Caracas, Venezuela.
1991
Galleria Arte 92, Milão, Itália.
1990
Galería Theo, Madri, Espanha.
1989
Galerie Hermanns, Munique, Alemanha.
1988
Elisabeth Franck Gallery, Knokke-Le-Zoute, Bélgica.
1986
Contemporary Sculpture Center, Tóquio e Osaka, Japão.
1985
Center for the Fine Arts, Miami, Estados Unidos.
1983
Museo de Arte Contemporáneo de Caracas, Venezuela.
1982
Palacio de Velázquez, Madrid, Espanha; Fundació Joan Miró, Barcelona, Espanha.
1981
Museo de Arte Contemporáneo Francisco Narvaez, Porlamar, Venezuela; Casa de Colón, Las Palmas de Gran Canaria, Espanha.
1980
Galleri Ferjm, Malmo, Suécia.
1979
Helsinki Kaupungin Taidekokoelmart, Helsinque, Suécia; Musée National d'Art Moderne, Centre Georges Pompidou, Paris, França.
1978
Louisiania Museum, Humlabaek, Dinamarca; Liljevalchs Konsthalle, Estocolmo, Suécia.
1976
Galerie Watari, Tóquio, Japão.
1975
Joseph Hirshhorn Museum, Washington, DC, Estados Unidos.
1974
Salomon Guggenheim Museum, Nova York, Estados Unidos.
1972
Galeri Beyeler, Basiléia, Suíça; Galerie Pauli, Lausanne, Suíça.
1971
Museum of Contemporary Art, Chicago, Estados Unidos.
1970
Galleria della Nuova Loggia, Bolonha, Itália; Kunstverein, Mannheim, Alemanha.
1969
Palais des Beaux-Arts, Bruxelas, Bélgica; Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris, França.
1968
Kunsthalle, Berna, Suíça; Stedelijk Museum, Amsterdã, Holanda.
1964
Galerie Müller, Stuttgart, Alemanha.
1959
Galerie Iris Clert, Paris, França.
1956
Galerie Denise Ren, Paris, França.
1949
Taller Libre de Arte, Caracas, Venezuela.


Exposições coletivas

1995
21 Biennale Internationale Graphique de Ljubljana, Liubliana, Eslovênia; Mode et Art 1960-1990, Palais des Beaux-Arts, Bruxelas, Bélgica; II Exposición Internacional de Esculturas en la Calle, Santa Cruz de Tenerife, Canárias.
1994
IV Bienal Internacional de Pintura, Cuenca, Equador; 22ª Bienal Internacional de São Paulo, Brasil; Fragmentos para um Museu Imaginário, Fundação de Serralves, Porto, Portugal.
1993
Collection de la Fondation Maeght, Saint-Paul-de-Vence, França; 1ère Triennale des Amériques - Présence en Europe 1945-1992, Espace Sculfort, Maubeuge, França; Manifeste, une Histoire Parallèle 1960-1990, Musée National d'Art Moderne, Centre George Pompidou, Paris, França; Akademie 1993 - Mitglieder ausstellung mit Gästen, Akademie der Künste, Berlim, Alemanha; Die verlassenen Schune, Landesmuseum, Bonn, Alemanha.
1992
New Realities - Art in Western Europe 1945-1968, Tate Gallery, Liverpool, Inglaterra; Musée National d'Art Moderne, Centre Georges Pompidou, Paris, França; Museum Ludwig, Colônia, Alemanha; From Torres-García to Soto, Art Museum of the Americas-Organization of the American States, Washington DC, Estados Unidos.
1991
La Mémoire de la Liberté, Centre Georges Pompidou, Paris, França.
1989
Art in Latin America, Hayward Gallery, Londres, Inglaterra; Nationalmuseum and Moderna Museet, Estocolmo, Suécia; Centro de Arte Reina Sofía, Madri, Espanha; Art Chicago, Chicago, Estados Unidos.
1988
The Latin American Spirit: Art and Artists in the United States 1920-1970, The Bronx Museum of the Arts, Nova York, Estados Unidos; 15 Masters of Contemporary Sculptures, Hyundai Gallery, Seul, Coréia do Sul.
1987
Art pour l'Afrique, Musée des Arts Africains et Océaniens, Paris, França.
1986
Contrasts of Form: Geometric Abstract Art 1910-1980 from the Guggenheim Museum and the Museum of Modern Art of New York, exposição itinerante: Biblioteca Nacional, Madri, Espanha; Museo Nacional de Bellas Artes, Buenos Aires, Argentina; MASP, São Paulo, Brasil; Museo de Arte Contemporáneo, Caracas,Venezuela; Tendências na Arte Abstrata Geométrica, The Tel Aviv Museum, Tel Aviv, Israel.
1984
Salon Grands et Jeunes d'Aujourd'hui, Paris, França.
1983
International Engraving Exhibit, Liubliana, Eslovênia.
1982
60-80 Attitudes-Concepts-Images, Stedelijk Museum, Amsterdã, Holanda.
1981
Paris-Paris, Centre Georges Pompidou, Paris; Arte Contemporânea na América Latina e no Japão, Museu Nacional de Arte, Osaka, Japão.
1980
Le Défi à la Peinture 1950-1980, Paris, França.
1979
Arte Constructivo Venezolano 1945/1965, Galería Arte Nacional, Caracas, Venezuela.
1978
L'Oeil en Action, Centre Georges Pompidou, Paris, França; América Latina, Geometria Sensível, Rio de Janeiro, Brasil.
1975
Bienal International de Gravura, Museu Nacional de Arte Moderna, Tóquio, Japão.
1973
Internationale Kunstmesse, 3, Düsseldorf, Alemanha.
1972
12 Ans d'Art Contemporain, Galeries Nationales du Grand Palais, Paris, França; The Non-Objective World 1939-1955, Annely Juda Fine Art, Londres, Inglaterra; Galerie Liatowitsch, Basiléia, Suíça; Galleria Milano, Milão, Itália; Düsseldorf, Alemanha; Talbot Rice Art Centre, Universidade de Edimburgo, Escócia.
1971
Multiples, the First Decade, Philadelphia Museum of Art, Filadélfia, Estados Unidos.
1969
Bienal de Nuremberg; Bienal Middleheim, Antuérpia, Bélgica.
1968
L'Art Vivant, Fondation Maeght, Saint-Paul de Vence, França; Cinétisme, Environnements, Spectacle, Maison de la Culture, Grenoble, França; Multiples, Wallraf-Richartz Museum, Colônia, Alemanha; Art Cinétique et Espace, Maison de la Culture, Le Havre, França/Kunstnernes Hus, Oslo, Noruega; Haus der Kunst, Munique, Alemanha; Le Musée dans l'Usine, Pavilhão de Marsan, Museu do Louvre, Paris/Palais des Beaux-Arts, Bruxelas, Bélgica/Stock Exchange, Berlim, Alemanha; Environnements, Kunsthalle, Berna, Suíça; Le Silence du Mouvement, Kröller-Müller Museum Otterlo, Holanda/Musée d'Art Moderne, Bruxelas, Bélgica; Soto, Vasarely, Le Parc, Ritchie Hendriks Gallery, Dublin, Irlanda/Ulster Museum, Belfast, Irlanda do Norte/Art Gallery, Bedford, Inglaterra/Redfern Gallery, Londres, Inglaterra.
1967
Lumière et Mouvement, l'Art Cinétique à Paris, Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris, Paris, França; International Exhibition of Contemporary Painting and Sculpture, Carnegie Institute, Pittsburgh, Estados Unidos.
1966
Weiss und weiss, Kunsthalle, Berna, Suíça; Biennale di Venezia; Salon Comparaisons, Paris, França.
1965
Anthology of Kinetik Sculpture and Perceptual Art, Signals, Londres, Inglaterra; Lumière, Mouvement et Optique, Palais des Beaux-Arts, Bruxelas; Licht und Bewegung, Kunsthalle, Berna/Baden-Baden/Düsseldorf, Alemanha.
1964
Biennale di Venezia.
1963
7ª Bienal de São Paulo, Brasil.
1962
Biennale di Venezia; Nul, Stedelijk Museum, Amsterdã, Holanda.
1961
Bewogen beweging, Stedelijk Museum, Amsterdã/Moderna Museet, Estocolmo/Louisiana Museum, Humlebaek, Dinamarca; Zero, Düsseldorf, Alemanha.
1960
Konkrete Kunst - 50 Jahre Entwicklung, Helmbaus, Zurique, Suíça.
1959
5ª Bienal de São Paulo, Brasil.
1958
Biennale di Venezia; Brussels International Exhibition, Bruxelas, Bélgica. 1º Festival de Arte de Vanguarda, Cité Radieuse Le Corbusier, Marselha, França.
1957
4ª Bienal Internacional de São Paulo, Brasil.
1951/68
Salon des Réalités Nouvelles, Paris, França.
1943/49
Salón Anual de Arte Venezuelano, Caracas, Venezuela.


Prêmios

1995
Grand Prix National de la Sculpture, França.
1994
Doctor Honoris Causa, Universidad Nacional Experimental de Guayana, Ciudad Bolívar, Venezuela.
1993
Commandeur de l'Ordre des Arts et des Lettres, França.
1990
Médaille Picasso (Vermeil), Unesco, Paris, França; Doctor Honoris Causa en Arquitectura, Universidad de los Andes, Mérida, Venezuela; Orden Antonio José de Sucre en su Primera Clase, Cumaná, Venezuela.
1989
Médaille des Arts Plastiques, Académie d'Architecture, Paris, França.
1983
Orden Francisco de Miranda en 1er Grado, Venezuela.
1979
Conseiller d'Honneur de l'Association Internationale des Arts Plastiques, Unesco, Paris, França.
1972
Orden Andrés Bello en 1er Grado, Venezuela
1968
Chevalier de l'Ordre des Arts et des Lettres, França.
1963
7ª Bienal Internacional de São Paulo, Brasil
1960
Premio Nacional de Pintura, Venezuela.