.

Building a House
1994/95. Areia, terra, luzes, cinza, movimentos, sons, fogo. Com a colaboração do público e do artista Andar Manik. Foto: Aendra H. Medita





Building a House (detalhe)
1994/95. Areia, terra, luzes, cinza, movimentos, sons, fogo. Com a colaboração do público e do artista Andar Manik. Foto: Aendra H. Medita



 


 


Maritain Sirait

Por Jim Supangkat

Graduou-se na Faculty of Fine Art & Design, Bandung Institute of Technology, em 1987. Antes mesmo de concluir os estudos, trabalhava como ceramista. Já nesse tempo, seu interesse era abrangente, não se limitando ao campo das artes visuais. Entre 1982 e 1983, participou do grupo de teatro STB, em Bandung, e entre 1983 e 1985, participou do Endo Suanda Dance Theatre. O resultado dese envolvimento no mundo do teatro e da dança foi o de se tornar mais consciente da sensibilidade localizada em seu corpo. Baseado-se nela, Marintan fez cerâmicas esculturais que apresentam aproximações gestuais.

Em 1988, depois de terminar os estudos, Marintan Sirait procurou desenvolver seu corpo para utilizá-lo como veículo. Ao lado de alguns artistas, fundou um grupo chamado Sumber Waras (a fonte da saúde). O grupo pesquisava movimento e conhecimento corporais relacionados à prática da arte visual. Nele, Marintan avaliava sua expressão artística, modelando a argila, o material cru das peças de cerâmica. Esse foi o aspecto mais importante da influência do movimento corporal no aperfeiçoamento de sua arte expressiva. Como resultado, parou de fazer peças de cerâmica, e começou a explorar a argila em relação ao seu conhecimento corporal.

Entre 1988 e 1993, seu trabalho tornou-se mais conceitual. Algumas das obras, que utilizavam ready-mades e fotografias, mostravam uma pesquisa complexa, consistindo em reflexões sobre a natureza, o corpo, a terra, a cultura e o eu. Nesse processo, ela também retornou à cerâmica e à argila, mas com restrições. Marintan não simpatiza com os trabalhos artísticos que tornam-se objetos. Eles seguem convenções e ajustam-se para satisfazer plenamente as expectativas dos outros. O processo de fazer obras de arte, que ela pensa ser a parte mais importante da criatividade, é ignorado em diversas convenções artísticas. Ela decidiu pesquisar o processo atrás da prática.

Começou então a identificar obras de arte que havia criado com o corpo. Como suas obras, ela sentiu que seu corpo não expressava o seu eu. Sentiu a necessidade de desconstruir sua expressão e reler seu corpo.

Descobriu que mesmo a argila que havia sido submissa ao seu movimento corporal não havia assegurado a demonstração de seu eu. Baseada neste conhecimento, trocou de meios, mudou da argila para a argila em pó, que é o material básico da argila. Na condução desta mudança, adquiriu o sentimento de desconstrução do conhecimento de seu eu e o sentimento de encontrar a terra como princípio da natureza, que há tanto tempo encontra-se subjugada pela cultura.

Em 1994, começou uma série de performances com o tema Building a House, que prossegue até o momento. As performances apresentam uma busca do eu na forma de processo de saúde. Em todas as performances, utiliza argila em pó e outros materiais encontrados nas proximidades dos locais onde ela as realiza. Pelo sentimento de espaço que é sempre específico, o movimento de seu corpo, o encontro do corpo e o do pó de argila, que resulta em rastros na parede, no chão, ela procura reconstruir seu conhecimento corporal e também seu eu.

O trabalho escolhido para participar da 23ª Bienal Internacional de São Paulo é Building a House, parte de uma série de performances. É uma peça baseada numa investigação realizada durante aproximadamente dois anos.


Depoimento da Artista

"Construindo uma casa"

a terra é invisível

entre...

você me escuta?
este é o seu pulso?
até onde isso vai?
encontre a janela... valide a terra
sobre, sob, no meio, para cima e para baixo

fareje o céu
distante encurtar
volte-se ao solo

com minha respiração, construí o lar

a terra é úmida

explorando os cantos
espalhe as lanternas
pode ver o mundo acima
também o único debaixo
no meio, encontramos nossas selvas
falando em linguagens

a terra é redonda

tremores nas cavidades do peito
calor, umidade, fumaça, oscilação, febre, dilúvio, fluxo, escoamento

a terra é renegada

largas janelas abertas
poeira procurando caminhos ao céu
entrando pela terra
falando em linguagens diferentes
com todo mundo
com cada um

corpo alienado
o eu alienado
sentimentos alienados

o proprietário disse que as mudanças são boas para você
o morador replicou: você sabe quem eu sou?

o corpo w (holly) me pertence
não será apenas a personificação de uma figueira-brava ou de uma planta de tomate
os sentimentos experienciados serão genuinamente nossos ou
eles são alugados para nós pelos gigantes ou pelos girinos
estamos sentados dentro de nós mesmos ou flutuando
e isto faz acreditar em tevê como entretenimento

nós temos oportunidade, coragem, vontade e força
para escolher e definir espaços e ao mesmo tempo existindo
conhecendo os intervalos das pulsações
há uma existência de um corpo antes dessa carne
agora a carne está etiquetada como uma marca registrada

existe um paradoxo entre os números binários e os intervalos das pulsações
a aspiração por um paralelo está tornando-se líquida, sólida e líquida novamente

na construção desta casa, o processo evolui
para definir o espaço dentro das fendas
nenhum fluindo com o rio enfurecido
nem sentado em silêncio

uma casa construída não de espelhos, mas espelhando o processo
as raízes da árvore firmadas no centro do tremor

de onde as ramificações crescem para encontrar alimento
em que nós somos os moradores, não os proprietários



Cronologia


Nasceu em Braunschweig, Alemanha. Graduou-se em cerâmica pelo Bandung Institute of Technology, em 1987. Em 1988 fundou o grupo Sumber Waras (a fonte da saúde), dedicado à pesquisa corporal. Realiza performances e faz obras de argila e cerâmica.


Exposições e performances

1996
2nd Asia Pacific Trienalle, Brisbane, Austrália.
1995
Membangun Rumah, com Yose, Andar Manik, Cemiti Gallery, Yogyakarta, Indonésia; Dream Carrier com mulheres artistas indonésias e australianas, Jakarta, Indonésia; Bandung, Indonésia; Sidney, Austrália; Canberra, Austrália; Melbourne, Austrália; The International Contemporary Art of the Non-Alignment Countries, Jakarta, Indonésia; Indie-Indonesie Festival, Zeebelt Theater, Haia, Holanda.
1994
Indonesian Women Artists, Tmill, Jakarta, Indonésia; Kami Sedang Membangun Rumah I, com Jalu C. Pratidina, Marjie Suanda, Oncor Studio, Jakarta, Indonésia; Kami Sedang Membangun Rumah II, com Yose e Andar Manik, French Cultural Center, Bandung, Indonésia; Kami Sedang Membangun Rumah III, com Wayan Sadra, Marjie Suwanda, Andar Manik, Taman Budaya, Surakarta, Indonésia.
1993/94
Sound of Body, Biannual Visual Art Festival, na instalação de Andar Manik, Jakarta, Indonésia.
1993
Cracking, na instalação de Andar Manik, Cemeti Galery, Yogyakarta, Indonésia.
1989
Bandung Young Artists, Japão Foundation, Jakarta, Indonésia.
1988
Fine Arts Exhibition, ITB, Bandung, Indonésia; Summer Waras, performance, Bandung, Indonésia.
1987
Theater Group Stema-ITB, performance, Bandung, Indonésia.
1986/88
Fórum alternativo de fotografia, Bandung, Indonésia; Bandung, Indonésia; Jakarta, Indonésia.
1986
Bandung Young Artists, Depdikbutd, Jakarta, Indonésia.
1984
Seniman Muda Bandung, French Cultural Center, Bandung, Indonésia; Kelompok 12, Goethe Institut, Bandung, Indonésia.
1983/84
Endo Suanda's Dance Theater performance, Bandung, Indonésia.
1982/85
Studioclub Theater Bandung, performance, Bandung, Indonésia; Yogyakarta, Indonésia; Jakarta, Indonésia.
1981
Galeri Sumardja, ITB, Bandung, Indonésia.
1980
Galeri Sumardja, ITB, Bandung, Indonésia.